Papos ruins



As vezes eu sinto que sou um fracasso, acho que é um sentimento comum entre a maioria dos jovens adultos, mesmo que não admitimos isso com frequência. A gente mais sobrevive, intercalando com breves momentos de vivência.

Algumas amizades deixam de fazer sentido, as contas chegam impreterivelmente todo mês, ficar doente é um gasto fora do orçamento, e as vezes tudo que a gente mais quer é  a nossa cama e o silêncio dentro da nossa própria mente.

As vezes sinto que consigo carregar um mundo nas costas e resolver o recado, outras vezes só queria que alguém desse conta de tudo isso pra mim.

Li um livro recentemente no qual a personagem se define como "a Funcionária" e o grande papel da vida dela é esse, depois de quase duas décadas nesse mesmo emprego, ela não se reconhece mais fora de lá, é como se ela não tivesse nenhuma outra missão na vida a não ser, ser uma "Funcionária".  

Fiquei pensando nisso, na vida adulta a nossa maior preocupação é  pensar se vamos dar conta de pagar o aluguel, de pagar os gastos daquele mês, se é que um dia vamos conseguir ter uma casa própria, será que vamos conseguir manter esse emprego no próximo ano, porque no final das contas, "nós somos só uma engrenagem nesse sistema", uma funcionária e precisamos de dinheiro para sobreviver. 

Enquanto nossos planos, nossos sonhos vão ficando cada vez mais em segundo plano, até serem somente uma lembrança nostálgica. A gente vai se esquecendo do que a gente gosta,  do que a gente quer, de quem a gente é.  

Eu observo alguns amigos e percebo que estão perdidos também,  ou talvez só mudaram tanto que eu nem mais os reconheço, me pergunto se eles percebem isso de si mesmo, se também estou assim, ou se é só a engrenagem fazendo o seu trabalho. Fico triste por eles, triste por mim. A gente bebe uma cerveja as vezes, ri a beça de piadas ruins, e guarda tudo pra si. Até porque a gente não quer desperdiçar aquele único momento de embriaguez com choros e papos ruins.

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