Eu fui à praia.

 



Depois de muitos anos sem ver o mar, eu fui à praia.

Pensa em uma criança fazendo novas descobertas, era eu nesse momento. 

Eu não lembrava mais que o mar tinha cheiro, gosto ou som.

Não lembrava mais da textura da areia nos meus pés e da capacidade dela em grudar no meu corpo sem a minha intenção.

Me deslumbrei com a paisagem, por várias vezes pisquei e esfreguei os olhos, questionando se aquilo que estava vendo era real.

E toda vez que o vento vinha e embaraçava meu cabelo, eu entendia um pouco mais sobre a força da sua natureza.

Eu tive medo do mar, veja só, me considero uma pessoa corajosa.

Mas, ao ver aquele azul cristalino, imenso e profundo, eu tive medo de enfrenta-lo. E não é por menos. Percebi que ali eu não teria chance. 

Tentei  aceitar que dado a uma certa distância o mar seria perigoso demais para mim.

Então eu fiquei, mas  pouco a pouco decidi me aventurar mais. 

Até onde meus pés poderiam tocar o chão e só até onde os meus quadris abraçaram a água. 

E quando eu achei que já tinha me aventurado o bastante, voltei para o raso, onde pensei que nada poderia me surpreender, que ali eu poderia relaxar. Que ali eu estaria segura.

O que é irônico, porque ali agachada na areia com a água abaixo dos meus ombros eu fui surpreendida. 

Achei que já tinha pegado a manha do mar. A maré vinha de frente e se caso ela viesse um pouco mais elevada, bastava eu me esticar um pouquinho que ela nem atingiria o meu cabelo.

Fácil, simples.

Pois bem, nessa de me preparar para a maré que vinha de frente, uma outra me atingiu. Ela veio pela minha lateral.

Fui pega de surpresa e ali no raso eu me desequilibrei.

Bati o joelho na areia e levei um caldo da maré que vinha de frente.

No momento eu ri, achei engraçado demais a minha situação, não havia percebido o meu joelho ralado.

Como ali, no raso, onde eu achei que estava segura eu poderia levar um caldo do mar?

Eu achei que já tinha entendido tudo, já tinha pegado o jeito. Já estava sob controle dessa situação. 

Como eu poderia ali, no raso, ter me desequilibrado?

E quanto mais tempo eu ficava no mar, observando a sua magnitude, tentando encontrar um jeito de me antecipar a ele, mais uma vez eu percebia que o mar fugia da minha compreensão, ele era além de mim.

Ele vinha manso, agitado.

Vinha baixo, vinha elevado.

Vinha rápido, um pouco mais lento.

Vinha de um lado, do outro e de frente.

Eu me apaixonei pelo mar. 

Apaixonei pela sua força, magnitude, pela sua autenticidade.

O mar não era previsível, e esse desconforto se tornou confortável para mim.

Porque talvez, entediante seria se ele fosse o mesmo. Não é?

Mas, o mar também foi cansativo, chegou um momento que eu cansei de resistir e enfrentar as marés e com um corpo cansado é mais perigoso, mais possível o afogamento.

Então eu entendi que esse era o momento de sair, de agradecer por aquele momento. 

Mas também, de entender que eu não poderia ficar mais, sem correr o risco de me machucar um pouco (ou um tanto) mais.

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