Era só me esforçar mais, mais e mais.


Eu estava na praia mas, por achar que precisava mais do que estar ali, decidi entrar no mar.

Logo de início, percebi que eu não era uma boa nadadora, bem, as águas das piscinas as quais já estava acostumada eram diferentes, mas, se eu me esforçasse, eu conseguiria.

O mar me engolia por inteira, e depois de vários caldos e de engolir água salgada, me deram um barquinho.

Agora eu não estaria sozinha, tinha um barco pra me ajudar e me guiar ao longo dessa jornada.

As ondas se tornaram maiores e a maré mais forte,

E eu tentava com resistência enfrentar aquele oceano.

Ele  parecia ser o que eu precisava.

Mas eu me perdi na sua imensidão, e quando me dei conta, estava sozinha, e o barquinho furado.

Exigi mais do meu corpo e do meu raciocínio para tentar consertar as rachaduras que ali se formavam,

mas, quanto mais eu consertava, mas elas se alastraram.

As farpas começaram a se enfiar na minha epiderme, não adiantava insistir.

Eu estava sozinha, sempre estivera, como se o barquinho nunca estivesse ali. 

Então, peguei tudo aquilo que achava ainda precisar, coloquei sobre as minhas costas, e me joguei no mar.

Apesar dos riscos eu não poderia aceitar a minha insuficiência, aquilo ainda não era o fim, eu poderia me esforçar mais, dar tudo de mim.

Nadei ferozmente sobre aquele sol que queimava a minha pele, mesmo com o sal que ardia os meus olhos, e com os meus músculos que  já não respondiam muito bem aos meus comandos. Eu tinha que continuar, eu precisava passar por aquilo, era aquilo que eu precisava...

O peso em minhas costas já não eram mais suportáveis, eu já estava afundando.

Tive que abandonar tudo aquilo que já não me ajudava em mais nada. Tudo aquilo, não fazia mais sentido, não era mais útil, eu estava pressionada.

E mesmo assim, eu me sentia perdida, mas eu tinha que continuar, era só me esforçar mais, eu me lembrava. 

Sem barco, sem equipamentos, sem vitalidade, sem intenção.

Não havia mais nada, tudo parecia ser em vão.

E pouco a pouco eu me entregava naquela imensidão.

Estava desistindo de nadar, não tinha mais razão para continuar.

Não tinha mais força, nem de onde retirar.

Estava desprotegida, suscetível a qualquer mal que poderia me atacar. 

A maré, o sol, a escuridão da noite, os animais que ali estavam, se tornaram pequenos diante do meu corpo desidratado. Pensava: "eu não me reconheço, mesmo se a minha imagem eu enxergar".

Senti saudades da praia, mas não me imaginava mais lá, ela continuava a mesma, e eu tive que mudar.

Continuei ali na água, e mesmo a minha pele se deteriorando, era aquilo que eu precisava.

Deveria ser. Não era isso que eu imaginava.

Fechei os meus olhos. 

Relaxei os meus músculos.

Naquela água eu adentrei.

Cada vez mais fundo, cada vez mais difícil de voltar.

Eu me afoguei.

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